Crítica: Kick-Ass
Geralmente quando um gênero começa a tentar se reinventar, é sinal de um certo desgaste ou de que alguma coisa vai mal. No entanto, não podemos dizer - ainda! - que as adaptações de histórias em quadrinhos estão em decadência em Hollywood. Basta pensar nos números dos filmes mais recentes e nas promessas que temos para breve, para respondermos negativamente de cara esta questão.
Mas então, como justificar a revolução no gênero que é este Kick-Ass, de Matthew Vaughn? A resposta é simples. O cinema autoral está chegando também a este filão mais do que óbvio na indústria atualmente.
Pra começar, Kick-Ass tem todo o jeitão de produção independente. E não apenas jeito; o roteiro do filme, apesar de criativo e extremamente envolvente considerando seu público-alvo, rodou de mesa em mesa em diversos estúdios, sem que se conseguisse apoio para o desenvolvimento da obra. Devido a paixão que tinha pelo projeto, Matthew Vaughn tocou a produção acreditando no potencial de divulgação das imagens na internet e nos congressos de HQs. A presença do astro Nicolas Cage - fã confesso de quadrinhos - também ajudou bastante.
O filme foi sendo tocado em paralelo a publicação da HQ pelo quadrinista Mark Millar, autor também de Wanted. A premissa da história - falar de heróis comuns, sem super poderes - pode até parecer simples, no entanto o script é puro pop, ultra-violento, com diálogos ácidos e personagens envolventes. Você chega a acreditar em alguns momentos estar assistindo a um filme de Quentin Tarantino (sério!). Alguns truques de montagem utilizados, como a sequência de planos imitando quadrinhos e cenas de tiro em primeira pessoa estilo Doom são geniais.
O elenco do filme também está sob medida para agradar ao mais rigoroso fã de quadrinhos. Como os heróis principais, Aaron Johnson e Christopher Mintz-Plasse (o McLovin de Superbad) estão ótimos. Mas as cenas são roubadas sempre pela menina Cloe Moretz. No papel da Hit Girl, a atriz pinta e borda, mostrando que talento não tem idade. Completando o time, Mark Strong e Nicolas Cage não comprometem.
A recepção de Kick-Ass foi tão boa - mesmo com a classificação etária elevada - que uma sequência já estaria sendo planejada. Vamos ver se bancada por um grande estúdio, a continuação terá este frescor de idéias que foi tão importante para o sucesso comercial e de crítica do filme. Caso contrário, será um chute bem dado no traseiro da platéia. Com o perdão do trocadilho.
Cotação: ***
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