Crítica: O Fantástico Sr. Raposo
Animações em stop-motion parecem existir sob medida para trabalhos de cineastas autorais. Que o diga Wes Anderson, que escolheu este projeto baseado na obra de Roald Dahl, mesmo autor do clássico A Fantástica Fábrica de Chocolates, para sua primeira experiência neste gênero.
O Fantástico Sr. Raposo é uma fábula com lição de moral, é claro, como qualquer conto infantil americano. No entanto, o que faz a diferença aqui é a forma particular que o diretor escolheu para contar a história.
Acostumado a mostrar conflitos familiares (como em seus dois últimos filmes, Os Excêntricos Tenembauns e A Vida Marinha de Steven Zissou), Wes Anderson aproveitou-se das características dos personagens para dar-lhes sentimentos e conflitos mais humanos, e, porque não, mais reais. O Sr. Raposo larga a vida de animal selvagem quando resolve se casar. Anos mais tarde, levando uma vida mais simples e apenas escrevendo em uma coluna de jornal, ele sente falta dos tempos áureos de caça e roubo de galinhas. O filho do casal é um jovem rebelde que não herdou os talentos esportivos do pai. Para piorar, chega a casa da família o primo Kristopherson, que mostra-se muito esperto. A medida que o filme se desenrola, o Sr. Raposo resolve voltar a vida marginal e atacar os três mais temíveis fazendeiros da região, pedindo ajuda ao sobrinho, para desespero de sua esposa e do filho ciumento.
A partir disso, Wes Anderson desenvolveu o filme de forma cativante e sem perder o ritmo em nenhum momento. A escolha pelo stop motion é entendida logo nas primeiras cenas; o visual estilizado é muito típico do diretor. Parece que o flerte com animação em seus filmes anteriores gerou realmente frutos.
Os personagens coadjuvantes - como por exemplo, o Marsupial e o Texugo - são por demais interessantes, e não são esquecidos pelo roteiro. Mas quem dá o show mesmo é George Clooney. Sua voz é perfeita para o Sr. Raposo, e o ator se aproveita de sua canastrice para desenvolver uma personalidade única, e diferente de tudo que já realizou.
É realmente um a pena que filme não tenha recebido o cuidado merecido na distribuição nos cinemas brasileiros, muito em parte pela concorrência com pesos pesados da época pré-Oscar. É um filme a ser descoberto - e apreciado - na telinha.
Cotação: ***
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